Gaveta fechada
Gaveta fechada.
Num poeirento sótão uma velha escrivaninha foi abandonada.
Uma das suas gavetas estava cuidadosamente fechada.
Bem no fundo de uma outra, escondida num cantinho, uma chave.
A chave servia e… curiosa a gaveta resolveu abrir.
Delicadamente envoltas em cetim e um laçarote de fita colorida,
Umas cartas, amarelecidas pelo tempo, repousavam.
Delicadamente o laço desfez e o cetim retirou.
Com mil cuidados as cartas foram-se abrindo.
Falavam dos tempos que já lá vão, de amores antigos,
De desejos contidos pelos preconceitos antigos.
Transportavam beijos enviados às escondidas,
Carícias prometidas em tempos de guerra.
Confessavam medos da morte, de mutilações atrozes,
De matar quem nunca lhe causou dano…
Prometiam prazer e amor eterno no fim da guerra.
Subitamente, um telegrama. Morto em combate.
Enrugado por mil lágrimas, amachucado pelo desespero.
Mais cartas lhe sucediam mas… nunca enviadas.
De si emanavam saudade, dor, desespero… mágoa.
Em cada uma moravam pétalas de saudades roxas
Secas pelo tempo e banhadas em lágrimas
Manchavam o papel de roxo saudade.
Quem as escreveu? Quem as leu?
Um homem e uma mulher como tantos outros
Vítimas da guerra e ambição dos homens.