TRÊMULOS
E cada vez mais cai
os pós da maquiagem,
quando leio as páginas
dos poetas, os clássicos,
os da modernidade,
Ivan, Cícero, Carlos,
Secchin, Hilda, Cabral,
Eliot, Yeats, Mário.
Vejo o que me falta,
sinto o que escapa
esgueirado, o rato
de baixo, camuflado
no medo e nos traumas
dos ciclos do passado
e do odor do álcool
suspenso pela casa,
o pai ouvindo rádio
e o som espalhado,
entre as longas tardes
e seus gritos calados.
E por onde eu passo
deixo a minha marca:
o desprezo aos fatos
de uma alma pálida,
de ânsias e de tarjas
pesadas que abafam,
de drágea a drágea,
a dor de não ser nada.
Resta o perolado
a surgir, isolado,
atrás da faixa clara
daquela nuvem prata
que traz uma verdade
no colo da bagagem
chumbo da sua água
presa que não desaba:
poemas não têm calma.
Findam, mas não acabam.