TARDE CINZA.
Tarde cinza.
Ouço passos,
um toque na minha porta,
ninguém entrou,
na minha vida,
senti um vazio
preencher minha alma,
a cadeira exposta
num canto da sala,
nela meu olhar ,
senti em mim
a dor do nada,
tentei
vislumbrar minha estrada,
não deu.
hoje gestarei os versos
mais triste que um
poeta ousou escrever.
o repasto no orvalho,
deixei no passado, assim
como minhas manhas.
olho-me, deplorável obra,
o papel me recusa,
sou engenho
moendo as dores do mundo,
ela passou nos meus
momentos,
tento me discernir,
estrutura azeda de dar dó,
vou rabiscando o vazio,
não ei de me embriagar,
quero sentir a lâmina cortar
as fibras brutas da existência,
vou á porta,
largo tudo,
o vazio, a dor, a saudade,
caminho sobre espinhos,
mas levo ela,
a poesia,
ela me da ar,
limpa minhas entranhas,
me tira o abismo,
onde não quero cair...