CADÊ O CONTO DE RÉIS?
Por causa de sua importância,
Sua pujante economia,
Com os seus quarenta engenhos
Pelas várzeas, cercania,
Veio Dom Pedro Segundo,
Afamado em todo mundo,
Visitar Pilar um dia.
A Pilar paraibana
Que o açúcar produzia,
Co’os seus quarenta engenhos
Aquecendo a economia;
Pilar forte, Pilar brava,
Mas com mão de obra escrava
É que Pilar progredia!
Mas isso é outra história
Que quero contar um dia,
Hoje só quero deter-me
Na visita que fazia
O monarca brasileiro,
Filho de Pedro Primeiro,
À Pilar, num belo dia.
E dessa honrosa visita
À Vila do meu Pilar,
Tem um fato interessante
Que aqui eu vou contar,
Pois um conto de réis foi dado,
Pela Província, enviado,
Para a festa organizar.
Para que a Casa de Câmara
E cadeia fosse caiada,
E também toda mobília
Fosse bem envernizada,
E uma gran recepção
Pr’o imperador da nação
Fosse aqui realizada!
Que a festa fosse imponente,
Que fosse belo o louvor,
E que toda a nossa gente
Tratasse o rei com amor,
Que toda vila chegasse
E que todo mundo gritasse:
Viva o nosso Imperador!
Dr. Ambrósio Leitão,
Presidente da província,
Província que é nosso Estado,
Mandou dinheiro sobrando
Três meses antecipado,
Pra tudo ser preparado
Com zelo e com primazia,
Pra receber a Dom Pedro
Com pompa e com fidalguia!
O presidente da Câmara,
Sr. Murilo Falcão,
Foi logo encarregado
Dessa importante missão,
Preparar os aposentos
Pro imperador da nação,
Deixar tudo organizado
Como manda a tradição,
Pra receber a Dom Pedro
Com grande recepção!
Mas passado os três meses
Nada no prédio se fez,
Nenhuma gota de tinta
Na Câmara ou no xadrez,
Mobília não foi pintada,
Pra festa tão afamada
Não prepararam foi nada,
Sequer cevaram uma rês!
Pois o dinheiro sumiu,
Adeus ao conto de réis!
Escafedeu-se o dinheiro
Nos bolsos dos infiéis!
E o prédio estava imundo
Quando Dom Pedro Segundo
Chegara no vinte e seis.
Em vinte e seis de dezembro
Chegou Dom Pedro à Pilar,
Com uma grande comitiva
Sempre a lhe acompanhar,
Mas nossos vereadores
Sentiram medo, pavores,
Querendo se ocultar;
Porque do conto de réis
Nada se fês no lugar!
“Cadê o conto de réis?”
— Ambrósio só perguntava;
Enquanto Murilo Falcão,
Sem responder, gaguejava.
Quem sabe por onde andava?
O povo não se detinha
E de pressa ironizava
Que aquele um conto de réis
Deixou de andar co’os fiéis,
Criou asas e voava!
(De meu livro "VISITA DE D. PEDRO II À PILAR-PB E OUTROS POEMAS PILARENSES)