Quem disse que o poema existe
pretendendo ser arte ou algo imortal?
No barco que naufraga todos os dias
assolado pelo nosso diário vendaval,
o poema é beijo solto ao vento
é memória da mulher tornada sinal.

Quem disse que o poeta sofre a cada estrofe
uma dor secular de profundo deslumbramento?
O poeta nada pena, ele é poeta e apenas
entende a brevidade que leva ao ponto final.

Quem disse que o sofrimento da alma tem cor?
É incolor, despreza o arco-íris, é essência,
é desassosego, é rebeldia, às vezes amor...

Quem disse que o que ora escrevo tem valor?
Pois, ora, em verdade não tem, são palavras
que montei em um jogo de armador...
O poema escapa e vai embora
e eu fico pensando no que não sou.



Crédito da imagem: http://alexandrybarreto.blogspot.com/2014/02/a-duvida-filosofica.html