PORQUE EU MEREÇO
Chego a casa
Com fome e cansada
mais morta que viva
da lufa lufa do dia a dia.
Mas agora
estou no meu reduto sagrado
e eu mereço o melhor.
Livro-me das roupas
que cobrem o meu corpo
restituo-lhe a liberdade.
Estico-me na chaise longue
sinto o cansaço,
escapando-se livremente
pelos poros...
Uma onda de bem-estar
envolve-me
numa pose sedutora.
Bebo com avidez
saboreio vagarosamente
toda a remissão que me cobre
porque eu mereço.
Com as forças retemperadas
Levanto-me e vou tomar banho.
Para me dar o meu santo acabamento!
Faço o jantar .
Ponho a mesa.
Toalha branca de linho e renda
e a minha melhore baixela
Acendo as velas e os incensos
Ponho uma música suave
"Porque eu mereço"
Janto sozinha comigo
e aprecio a minha deliciosa refeição
Porque eu mereço!
Epílogo:
Como cheguei a casa extremamente cansada, eu poderia ter comido uma sanduíche sentada no sofá em frente à televisão. Afinal, era apenas eu. Este procedimento colocar-me-ia em desvantagem perante mim porque, perante mim, eu mereço o melhor. Em vez disso, tentei dar-me um bom tratamento. Relaxei na espreguiçadeira, tomei um banho com sais e pétalas de rosa brancas, hidratei o corpo com um bom hidratante. Comi um bom jantar e desfrutei serenamente de todas as delícias com que me brindei.
Ganhou o corpo e ganhou o espírito, portanto, eu também beneficiei porque sou ambos. Fiquei feliz, porque eu mereço.
Somos nós que costuramos a nossa felicidade.
© Maria Dulce Leitão Reis
04/03/2020