VOU SENTIR FALTA DO MEU MAR
Vou sentir falta do meu mar
Oh sim, é o meu mar
Eu me acostumei a vê-lo como meu
Tão grande a proximidade
E o calor que nos une
Tantos desabafos
De tristeza e alegria
Tantos conselhos sábios
Tanta orientação dada
Quando chorei ou ri!
A hora da partida
Aproxima-se rapidamente
Vem vestida de veludo
Com laços de cetim.
Há um aperto no meu coração
Foram tantos anos de convivência...
Termino as últimas caixas
Caixas bonitas
Com estrelas e corações pintados
Onde guardo as minhas lembranças
Tão gratas à minha alma.
A brisa marítima
Carregada de cheiros e risadas
E as conchas do mar
Formadas por cada lágrima derramada.
Para cada emoção sentida, uma concha do mar.
Tristeza, alegria, desespero, alívio
Medo, desafio, ingratidão
Calor, compreensão
Amizade e amor.
Eu só deixei na praia
As conchas do ódio e do rancor
Na próxima vazante
Serão levados para o fundo do mar!
Eu junto todas as conchinhas
Na mesma caixa
As ruins, vão amolecer
Com a proximidade
Da concha do amor.
A da alegria está ansiosa
para lhes dar um grande abraço.
Recebi uma mensagem das ondas do oceano.
"Espero que tenhas muita sorte no teu futuro antigo."
Olhando pela janela do quarto
Vejo o imenso mar
Soprando beijos para mim
Olhando pela janela do salão
Vejo o jardim
Cheio das flores que plantei.
Sinto que elas estão tristes por mim
Eles sabem
Que eu não vou vê-los novamente...
Não consigo descrever por palavras
A amálgama de sentimentos e emoções
Que lavra dentro de mim.
Não sei se é alegria
Por voltar ao que deixei
Se é a tristeza
De não ver de novo as minhas flores a sorrir
E a incerteza de não saber
Se verei novamente o meu mar
acariciando os meus pés
Abraçando e beijando todo o meu corpo
Ou simplesmente
Se voltaremos a ficar a olhar um para o outro,
Eu, sentada na beira da água
Deixando-me cativar
Pelos sussurros apaixonados das ondas.
Será um misto de tudo isto
E só por isso
Eu não sei decifrar o que sinto.
Eu só sei...
Que vou sentir falta do meu mar!
© Maria Dulce Leitão Reis
Copyright 05/03/2020