Pequena Notáveis V(*)
15/11/2005 14h42
No meu e-book, Pana-pana,Chuva de Trovas(*),reuni as trovas que consegui arrebanhar.Impulsivamente.Afinal,eu já perdera muitas,embora tivesse várias publicadas em jornais e revistas.Por ter passado um longo tempo acompanhando o marido engenheiro e,não tendo encontrado um trovador sequer por onde passamos,nas viagens pelos brasis,escrevia trovas sem aquele burilar ás vezes necessário,quando se pertence a um grupo,quando se vai concorrer.
Fiz mil posters com elas todas e entreguei os originais para um editor.Depois meu antigo divulgador cultural,Jorge Gonçalves,as formatou.Mandei o arquivo para o Baçan do CEN e foi assim que elas viraram e-book(**)
Releio e vejo que há algumas que precisam ser melhorads.
Por exemplo,sinto destoante do ritmo o último verso desta:
Queimada numa fogueira,
vítima da Inquisição,
a mulher que era parteira
nasce hoje,sem delação...
Aí,reescrevo:
Foi queimada na fogueira
na feroz inquisição
- mulher que era parteira
hoje é livre para ação...
E sei que agora vou ficar escrevendo,metrificando,até extrair dela o melhor...
Quando brotam espontâneamente,algumas saem perfeitas,outras,são apenas quadrinhas,que podem nos deixar exaustos,para encontrar a forma mais bonita,mais ritmada...
Em Pana-pana,muitas das trovas falam da loucura e não são antigas,mas datam de meus estudos,depois que enveredei pela psicologia:
Num mundo de faz-de-conta
o insano,bem contente,
parece dançar na ponta
de uma lança incandescente...
E essa mais:
Com lucidez peculiar
quantos "doidos" são mais certos
que os que pensam acertar
julgando-se muito espertos...
Outra:
Há muito louco no hospício
a fazer tanto escarcéu,
por ter passe vitalício
nos auditórios do céu...
Jamais quis trabalhar em hospital psiquiátrico,pois sei que combateria o bom combate,a defender as pessoas ali internadas e o desgaste ia ser enorme.Talvez fosse despedida,sei lá...Mas a loucura me fascina,como algo inerente a todos.Em maior ou menor grau ou definitiva,curável ou não,muitas vezes nenhum descontrole físico ou psíquico,mas doença espiritual:
Ouvindo vozes "de fora"
quantos loucos,conectados
com o Alto,sem demora
são deste mundo afastados...
E convido,numa delas a amá-los,como aos especiais;
Deve-se amar aos doidinhos
são filhos de Deus também
agem como passarinhos,
não fazem mal a ninguém...
E cito um dos muitos exemplos de santos:
()
Se São Francisco de Assis
falava compassarinhos
era o doido que se diz,
a cantar pelos caminhos
(II)
São Francisco,sendo nobre
vestido em trapos andava
louco de Deus ,fez-se pobre,
rico nos Céus,bens juntava...
Há em pana -Pana( essas duas sobre Francesco,meu santinho ecológico,acabo de fazer,sem reler),ainda essa:
parecem falar sozinhos
os dementes,todavia
traduzem,dos passarinhos,
os recados e a magia...
Apesar do título ,apenas para dar continuidade á série iniciada e que será em breve um e-book,na verdade,não estou chamando minhas próprias trovas de notáveis,pois isso seria sinal de uma vaidade tola(há anos troquei vaidade por contentamento).Mas toda trova deve ser notada.Notável,pois sua mensagem é proposital,seja ela filosófica,lírica ou o humorística.Como diz o dicionarista Aurélio:
NOTÁVEL:
1.Digno de nota,atenção ou reparo
2.Digno de apreço ou louvor.
3.Essencial,importante
4.Eminente,insígne,ilustre.
5.extrordinário,considerável
Devo registrar que falo de "Pequenas Notáveis"numa referência a Carmen Miranda.Repito aqui,talvez alguém não tenha lido as demais crônicas de memórias.O item um também as explica;não devem passar despercebidas.
Confidencio numa delas;
Eu quero que minhas trovas
crisálidas obsoletas
andem por aí,como novas,
mudadas em borboletas.
Concordo plenamente com os ítens 2 e 3 do verbete.O número 4 sofre,por certo,a rejeição dos Poetas que torcem o nariz para elas.Pior para eles.Não sabem como representam um exercício de humildade e grandiosidade a um tempo!
Os dois adjetivos da última consideração do dicionarista,extraordinário(a),considerável,mas como cabem bem!O número de trovas no mundo é incontável,o contingente de trovadores,imensurável.São extra-ordinárias,ora se são!
Clevane pessoa de araújo Lopes
Belo Horizonte,Minas Gerais,Brasil
Publicado por clevane pessoa de araújo em 15/11/2005 às 14h42
O sol doura a vida,nessa tarde que se esvai...
(*)As demais crônicas de memórias sobre a Trova estão postadas em meu Diaário(blog):
http://www.clevanepessoa.net/blog.php
e aqui,nos Textos do Recanto das Letras.
(**)www.portalcen.org/bv/clevane/clevane.htm