QUANDO CHEGUEI
Quando cheguei,
a terra chorava pedras rubras
que um rumor líquido,
por entre o sombrear verde
das árvores antigas,
acolhia e acalentava.
Eram como denúncias
duma outra idade
numa outra escala de tempo,
onde as suas presenças
se mediam em ritmos
de ocasos repetidos aos milhões,
como numa sucessão lenta
e nunca enfastiada,
de contagem impossível.
E havia uma paz gritada
nas horas estendidas,
no silêncio contumaz dos momentos
e das sombras densas,
que abria um espaço
e atapetava um caminho
feito de religiosidade,
onde gestos sem idade
fariam sentido
mesmo se profanos.
Mesmo se inacabados.
Foi por ele que me perdi,
inventando preces só minhas,
sem saber que eram repetidas
e que apenas se renovavam
em ecos de uma outra boca
que, noutros momentos
de igual surpresa,
tinha encontrado
aquele santuário
poupado pelo tempo
e, nele, orado
a um deus desconhecido...
Mesmo que silenciosamente...
Mesmo que insuspeitadamente,
num altar feito de acasos...
Novembro 2007