Poema longo
Tanto na tela como no papel
qualquer rascunho é cruel.
Tento guardar o que se diz
qualquer fragmento é poema.
Depois lapido tudo
como se fosse fazer uma novela.
No meio, eu perco
esqueço o acento
deixo que o tempo passe a perna.
Sorte minha é amar a poesia
assim não esqueço de lembrar.
Só a tela
é incompleta
Já o papel
completa.
Escrevo versos curtos
sonhos em longos versos.
A palavra amassa.
O som preenche.
Peço licença se desgraço quem fala.
Juro tentar escrever à desgraça,
não alcanço quando quero,
somente na ocasião em que escapa.
Faço e desfaço,
amarro como se fosse meus cadarços.
Dizer
nem sempre é
possível.
Tenho dito!
Escrever
quase sempre é
imprevisível.
Tenho visto!
Às vezes, tenho que ler em silêncio
escrever na multidão.
Às vezes, esqueço de dar ênfase
tropeço na interrogação.
Volta e meia recomeço
como se pudesse.
Escrever, ler e falar resumem tudo
[que procuro]
ir atrás
indo para frente.
Olhar com delicadeza
para as pontas dos pés
faz crer
ser um gigante
[aquele poema que sonhei escrever]
mas relendo
sei que não é nada disso
nem daquilo
era só vontade [ou vaidade]
pois na verdade
é grande a distância entre eu e o poeta.
Já escutei melodia terminar em poesia
embora é cantando que ganha harmonia.
Não é qualquer canção que vai na boca
muito menos
poema longo
sem métrica,
rima torta.
Assumo: queria um poema pronto.
Porém...
Este nasceu longo.
Sem refrão e repetição.
Amei fazê-lo no meio do antes e do depois.
Parece que foi ontem
mas é hoje
para ser amanhã.
Longo,
demais,
sem mais,
cresce
cada vez que estico
uma palavra de dentro para fora
perco a vontade de parar
só para saber até quando uma poesia chega,
só para saber até quanto o que se lê fica.