Luto
ai capitão,
nessa arca ignorância
acaso bate um coração?
olvidas que a bandeira
mais que céu e estrelas
freme em vida brasileira?
não juraste por ela?
ai capitão,
crês mesmo no que contas?
na economiopia chacinária
alerta ao bolso abastado,
cega a morte da Maria
em covarde descaso?
não juraste honra?
ai capitão
a resposta é luz
que vibra no ar
em casas de palafita
no morro do medo
nas latinhas de brinquedo
na bola pra chutar
na vida que se cria
a despeito da vilania
do teu chumbo voador.
não vês o sol nascente?
ai capitão
a dívida se paga
como se é conosco
nas parcelas sem gosto
do ouro que só deus-dará
na sujeira mais-valia,
que da penúria extrema
alimenta teus marajás.
não conheces teu sistema?
cá se nasce assim,
com a voz do sim
o ouvido do não
e a alma infinda
pra doação
rogo-te todavia,
não nos tire a vida
pois o resto é banal.
dói indagar à perda doída
se no fim do abismo
haverá churrascos de domingo
e ceias de natal