A UMA PASSANTE

A UMA PASSANTE

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.

Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,

Uma mulher passou, com sua mão vaidosa

Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.

Eu bebia, como um basbaque extravagante,

No tempestuoso céu do seu olhar distante,

A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade

De um olhar que me fez nascer segunda vez,

Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!

Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,

Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

Charles Baudelaire

Charles Baudelaire
Enviado por Baracho em 26/02/2021
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