Redondilha virulenta
eu afirmo: sou pandêmico
quando me vejo no espelho
mascarado e intoxicado
quando lavo as mãos e sujo
putrefato e nego o fato
da cor mortalha no chão
eu afirmo: sou pandêmico
no trajeto que construo
no contágio e nesse estágio
me limpo para infectar
entrementes umas gentes
no caos do atraso viral
que nada pode um daninho
uma praga que se alonga
se o vírus dela se nutre
o cheiro de álcool na casa
mas enxergam mais claríssimo
o sóbrio raiar da cova
eu afirmo: sou pandêmico
transmissor que paga contas
descartável ou durável
desprotegido de si
devoro onde posso e moro
em qualquer parte do poço
eu afirmo: sou pandêmico
quando me abro de asperezas
lockdown e a morte caudal
na bandeira esburacada
onde enxugo o rosto lasso
o suarento dos que aguentam
que tudo pode espalhar
a solidão que aglomera
o corte no abraço infecto