Redondilha virulenta

eu afirmo: sou pandêmico 

quando me vejo no espelho 

mascarado e intoxicado 

quando lavo as mãos e sujo

putrefato e nego o fato

da cor mortalha no chão 

eu afirmo: sou pandêmico 

no trajeto que construo 

no contágio e nesse estágio 

me limpo para infectar 

entrementes umas gentes

no caos do atraso viral

que nada pode um daninho

uma praga que se alonga

se o vírus dela se nutre

o cheiro de álcool na casa

mas enxergam mais claríssimo 

o sóbrio raiar da cova

eu afirmo: sou pandêmico 

transmissor que paga contas 

descartável ou durável 

desprotegido de si

devoro onde posso e moro

em qualquer parte do poço 

eu afirmo: sou pandêmico 

quando me abro de asperezas 

lockdown e a morte caudal

na bandeira esburacada

onde enxugo o rosto lasso

o suarento dos que aguentam

que tudo pode espalhar 

a solidão que aglomera 

o corte no abraço infecto 

André SS
Enviado por André SS em 26/02/2021
Código do texto: T7193753
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.