Toda casa tem um rato não visto
atrás da pia o rato acontece
periclitando o calor da ordem engaiolada
invadida pelo calendário
com seu longo rabo à espreita
o olho voltado para a imagem
cinzelada, obscura no ruído do peludo
incômodo como um corpo
estorvado no parir
nota-se o instinto de matar, retirar
o intruso à espera do espaço
impossível na casa maculada
atazanado na calva sobre o piso
proseando com os tentáculos que
não pegam o siso
o dia é uma ratoeira no estertor
sob o claro da bruteza
o rato aguarda a morte, encurralado
perto da lixeira, os cômodos sendo
roídos dentro da cabeça do rabudo
com registro geral
toda casa tem um rato não visto
agonizando a tensão
um pedaço de pau é a arma
para o arrepio petulante da visão
rabo dando rasteira no normal repetido
os objetos no lugar de sempre
golpes e ascendência do grito
dos dois lados, humano e bicho
pauladas no bicho, corpo em frente ao banheiro
e um animal estendido na diagonal da razão
sem escapulir sob o sol que cocorica
lá fora o gato no pedaço de tronco
entreabre os olhos sulfúricos na
fleuma dos que subestimam a
longevidade do ridículo bípede
enlameado no travo do meio-dia
retilíneo a pauladas
o dia é uma ratoeira no estertor
sob o claro da bruteza