Toda casa tem um rato não visto

atrás da pia o rato acontece

periclitando o calor da ordem engaiolada

invadida pelo calendário

com seu longo rabo à espreita

o olho voltado para a imagem

cinzelada, obscura no ruído do peludo

incômodo como um corpo

estorvado no parir

nota-se o instinto de matar, retirar

o intruso à espera do espaço

impossível na casa maculada

atazanado na calva sobre o piso

proseando com os tentáculos que

não pegam o siso

o dia é uma ratoeira no estertor

sob o claro da bruteza

o rato aguarda a morte, encurralado

perto da lixeira, os cômodos sendo

roídos dentro da cabeça do rabudo

com registro geral

toda casa tem um rato não visto

agonizando a tensão

um pedaço de pau é a arma

para o arrepio petulante da visão

rabo dando rasteira no normal repetido

os objetos no lugar de sempre

golpes e ascendência do grito

dos dois lados, humano e bicho

pauladas no bicho, corpo em frente ao banheiro

e um animal estendido na diagonal da razão

sem escapulir sob o sol que cocorica

lá fora o gato no pedaço de tronco

entreabre os olhos sulfúricos na

fleuma dos que subestimam a

longevidade do ridículo bípede

enlameado no travo do meio-dia

retilíneo a pauladas

o dia é uma ratoeira no estertor

sob o claro da bruteza

André SS
Enviado por André SS em 21/02/2021
Código do texto: T7190075
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