SE AQUI PASSARES
Se um dia passares nesta mesma estrada
Que palmilho agora, andarilho errante,
E, no teu cansaço, parares um instante,
Pergunta à penha bruta se ela não viu nada.
E ela te dirá, num ritus de amargura,
Que viu passar aqui um’alma abandonada,
Trazendo a roupa rota, a carne dilacerada,
E recostou, silente, na superfície dura.
Num gesto de tristeza, te dirá ainda
Que tinha a dor estampada ao rosto
E na dureza fria do providencial recosto
Deixou numa lágrima sua dor infinda.
À relva verde que enfeita o paço
Pergunta por mim e ela te dirá tristonha
Que um’alma triste, na higidez medonha
Do sofrimento, descansou em seu regaço
E, depois já pronta a retomar o passo,
Brandindo o cajado em direção do espaço,
Mil vezes maldisse a interminável estrada.
E, vagarosa, num passo cambaleante e incerto,
Seguindo novamente seu destino certo,
Perdeu-se, por fim, na imensidão do nada.