SE AQUI PASSARES

Se um dia passares nesta mesma estrada

Que palmilho agora, andarilho errante,

E, no teu cansaço, parares um instante,

Pergunta à penha bruta se ela não viu nada.

E ela te dirá, num ritus de amargura,

Que viu passar aqui um’alma abandonada,

Trazendo a roupa rota, a carne dilacerada,

E recostou, silente, na superfície dura.

Num gesto de tristeza, te dirá ainda

Que tinha a dor estampada ao rosto

E na dureza fria do providencial recosto

Deixou numa lágrima sua dor infinda.

À relva verde que enfeita o paço

Pergunta por mim e ela te dirá tristonha

Que um’alma triste, na higidez medonha

Do sofrimento, descansou em seu regaço

E, depois já pronta a retomar o passo,

Brandindo o cajado em direção do espaço,

Mil vezes maldisse a interminável estrada.

E, vagarosa, num passo cambaleante e incerto,

Seguindo novamente seu destino certo,

Perdeu-se, por fim, na imensidão do nada.

mreno
Enviado por mreno em 20/03/2005
Código do texto: T7187