Estados (no sentido de estar)
Há tempos onde me instalo na fantasia,
É quando meu imaginário parece mais vasto que o mundo.
Há outros tempos onde os dois pés estão fincados na realidade
Que é quando ela me parece mais aprazível que qualquer faísca ilusória.
Em um me sinto criança-eterna-criança que se utiliza de sua inventividade para sobreviver.
Noutro me sinto adulta-chata-adulta que nada consegue ver além do que está posto.
Daí sou levada a pensar que é preciso crescer sem crescer muito.
Crescer só o bastante
Para não perder de todo a fantasia e nem viver alheia a realidade.
Ninguém carece de crescer muito, porque quem cresce muito fica chato.
E eu não suportaria me tornar completamente chata.
Quando vivo um hiato na escrita é quando estou instalada na realidade e aí abro um livro qualquer da Clarice e leio qualquer parte.
Quase sempre sou devolvida ao meu estado de poesia.
As vezes inspira para escrever
As vezes inspira para viver
E é o suficiente.
Quando estou travada na fantasia, eu leio Adélia.
A danada é mestra em fazer poesia da realidade-dura-poética-dura-realidade.
As vezes inspira para escrever
As vezes inspira para viver
Em ambas as vezes inspira a ser simples.
E é o suficiente.
Quando não sei onde estou e nem ao menos onde instalada estou, nem ler eu leio.
Escrever não escrevo.
Tudo é pouco atrativo.
Me deleito no tempo, recurso único e último.
Ele passa.
Eu passo.