PARTO
Contorce-se a alma em dor terrível,
Por todos os poros um suor gelado,
Ouvindo-se apenas seu ronco entrecortado,
Como um gemido feroz e horrível.
Rasgam-se-lhe as entranhas, em pesadelo enorme,
E o sangue borbulhante e em jorros violentos
Lateja-lhe na fronte, pálida e disforme,
Quase que explodindo em fatal momento.
Repente, gritos sacodem o silêncio rouco
E alternam-se às vozes e seguindo-lhe, louco,
Mais outro gemido, prolongado, freme.
Punhos cerrados e um derradeiro esforço:
Empalpado em sangue a percorrer-lhe o dorso,
Nasce o poema e a alma, estafada, treme.