CORAÇÃO-PALHAÇO
Ri, palhaço, em meio aos dissabores
Que te afligem a alma desassossegada.
À platéia provoca estrondosa gargalhada
E, no calor das palmas, esquece as dores.
A turba feliz que a te ver aparece
Também, como tu, sofre e lacrimeja
Mas espera tua graça pr’a ver se esquece
A dor que, imensa, em cada um lateja.
Teu riso, joguete de falso destino,
Em todos provoca delírio fremente
Que incrusta na alma febril dessa gente
O dom de olvidar o seu desatino.
A ninguém comove a mísera agonia
Que tua vida assola, importa a alegria
Que a turba te exige no picadeiro.
Espetáculo à parte, também vida afora,
Te exijo que sejas, como és agora,
Assim, coração, palhaço primeiro.