Feito a noite
Não existe escuridão, não em meus pensamentos.
Insignificante, abstrata, minha alma tenta ouvir aquilo
que não diz, mas nada há nesse instante exceto
o que dela sai em turbilhões de palavras e não traduz
o que nem eu mesma consigo entender.
As respostas todas estão na cor daqueles olhos,
de tanta expressão como se habitassem uma alma
aparentemente desolada, mas confiante na vida,
essa alma segue feliz com a consciência de ser amada.
Aqueles olhos teus, que feito a noite caindo sobre o mar
seduz, me encanta e me leva mar à dentro, destemida.
Basta fitá-los mais um pouco pela milésima vez,
para me sentir viva, e não querer ponderar.
E quantas noites atravessei minhas mágoas
sobre a cor dos teus olhos, eu em desconsolo
que fica agora no passado, tenho em minhas mãos
o universo que hoje possuo e sei enxergar.
Sou de mim mesma, uma idéia abstrata, mas sou,
aprendi a anoitecer nesse suave sonho liberdade,
num céu feito para todas as viagens, onde
pouso levemente em qualquer nuvem que o amor
nos permite tocar sem saber dos próprios limites.
Desço... Piso sobre pedras que não causam dor
fecho os meus olhos, a memória traz a sensação
de infância, da pureza que dela restou,
das pastagens, das flores selvagens, das águas
por onde escorrego os meus restos de sonhos
que se vão riacho abaixo na escuridão, sem
medo, sempre... Buscando os rios onde em cada curva
a certeza do desaguar no mar noturno dos teus olhos
desenho a lua, se ela também não está,
é sempre lá que eu posso te encontrar.