APENAS AS LETRAS

Quão mudo ficou o tempo,

Que aos poucos tornou-se cinza,

Como o silêncio fosse a última brisa,

Perdeu o seu encanto calado,

Lutando no vazio do âmago,

Concertando o estrago da saudade,

Como um soldado faminto por sangue,

Numa guerra onde a solidão domina,

Talvez o vento seja o prenúncio,

Da nova aurora, a efémera faixa sem brio,

Pois, rápido é o efeito dos seus feixes,

A íris não acompanhou o movimento,

As peças ficaram sem encaixes,

Pois, os raios deixaram fragilizada a retina,

Agora as pálpebras adormecem na sina,

De um dia após o outro em pleno caos,

Bem dentro do interior da célula,

Onde a cada minuto exigi-se resposta,

Enquanto conta gota a ampulheta,

Mascarando o instante em cada nua paleta,

Para que se vista de emoção,

A alma nua do ser que se julga poeta,

Bem antes da tal negação,

Até lá só as letras lhe resta (...)

(M&M)

Daniel Miguelavez ou Merlin Magiko
Enviado por Daniel Miguelavez ou Merlin Magiko em 10/02/2021
Reeditado em 10/02/2021
Código do texto: T7181201
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