E, tu, poema...
Às vezes fico assim parada.
O tempo seco na invernada
conta-me do inverno, segredos...
Fala-me das estações tantas
e, tu, poema, me acalantas
na infinitude dos vargedos...
Ah! Esses vargedos cor de âmbar
sem dimensão, são como o mar
largo e aflito nesses meus dias...
O poema me sobressalta
quase sem razão, mas eu, incauta,
despedaço-me em afasias...
Ah! Esse poema eu bem conheço
como as encostas onde desço
nesses dias de sol e vento.
Ouço pela cerca seus versos,
ecos efêmeros, dispersos
mais íntimos que o pensamento,
que o límpido céu azul
no soprar de um vento do sul.
No entanto, tudo passará...
O inverno... Exceto a poesia,
sem saudade, sem fantasia...
Ah! Só o instante importará...
No seio da planície e vale
irrompe o verso e, inda q’eu cale,
o capinzal seco é rima
translúcida no olhar... Sem voz.
Onde o silêncio dorme... A sós...
Ah! Esse destino me domina!...
Imagem clicada por minha irmã Nária Regina na fazenda em 2020. Uma imagem que amei e guardei porque sabia que nela tinha uma essência poética incrível.Tem imagens que são assim poéticas e nem precisaria versos escritos, mas eu inventei de criar uns hoje para não pensar muito na situação que estamos vivendo. Bem, o fato é que escrevi, escrevi, mas certamente não consegui descrever tudo que a imagem belíssima fala.. Porém, tentei. Tenham uma linda noite.