Torvelinho
Deito, fecho os olhos mas não durmo
Desperto, mesmo sem dormir
Sob a coberta me enfurno
Ainda é o primeiro turno
Tenho a noite toda por vir.
Os pensamentos em torvelinho
Qual novelo de linho
Que se desenrola e depois embola
Num bolo de linho embolado
A mente agitada; o corpo agitado
Numa inexplicável agitação
Subtração de discernimento
Que não discerne o momento
Para, funde, entra em confusão.
Pego, agarro o travesseiro
Com ele cubro a cabeça
Suplicando à loucura
Que me deixe antes que amanheça
Quiçá pela manhã
A mente aquiete, arrefeça.
Rememoro as glórias do passado
Num tempo em que corria atrás do vento
E sinto o corpo pesado, cansado
De uma luta que parece não ter fim
Busco um adversário e só encontro a mim
E reflito por um momento…
Muito de minha lamentação
E também do que chamo sofrimento
É fruto de minha observação
Do que escolho como pensamento
E se eu mudar meu ponto de vista?
Para além do que a vista avista
Para o logro que substitui o malogro
Cambiar por paz minha guerra
Não seria isso
Lançar novas sementes na terra?
Adormeço finalmente...
Entro nos recônditos do subconsciente
Há informações de grande valia
Todas bem guardadas
Intento trazê-las para o dia
Mas elas não me cabem no consciente
Continuam arquivadas
Por isso desperto, sinto tudo perto
Mas quando acordo…
Já não lembro de nada!
(Inspirada numa noite em que perdi o sono por algumas horas.)