Irônica Travessia.
Manoel chorando
ovo fritando.
Verso escarrando
pedra e sangue.
Prendeu-lhe a cruz
Negro violão
e vozes veladas.
O movimento segue,
simbolista rio de sangue.
tão obscuro o Rio ria,
o rio ria antes da travessia.
Depois se afogou no mar.
E em plena
Av. Beira Mar
as três mulheres
do sabonete Araxá.
Querem versos livres.
Querem pedras para ensinar.
Língua "nacional",
querem vaga para estacionar.
Estão nuas e requebrando
e quebrando a surdez.
Para solucionar a questão,
o senhor Lindomar Boavista,
em respeito à natureza,
escreveu na tabuleta:
"Não recolheu nestas pedras
o orvalho das madrugadas,
a pureza das manhãs!
( POETA )".
Que fiquem com a vaga.
Que briguem com a vaga
as três mulheres do sabonete Araxá.
Acordado, dormindo ou sonhando
a idéia é o que vaga.
O pensamento é o que vaga.
O espírito é o que vaga.
A alma é o que vaga.
A consciência fica no lugar.
De norte a sul, de leste a oeste:
Lapa dentro.
No aterro ou no Desterro.
Todo o nome carrega sua cruz.
Há muitos nomes no mundo:
Acrobata da dor, Vesperal,
Tuberculosa.
Há vocábulos e gritos, e um que
que se destaca nos Faróis.
Há versos supostamente livres
e uma tortura eterna.
Estrela nordestina.
Universo retirante,
João, deixe as pedras.
Deus peladinho nos
chama para brincar.
Se o Capibaribe seca,
não se iluda:
O mar está com câncer
de pele.
O Universo é ovo
Dentro do ovo o Universo
já respira sem ar.
Há sangue compondo a pedra.
O quarto estado da matéria é plasma:
"E a lua tornou-se sangue".
Ovo gemendo, Universo gemendo.
Quedam-se estrelas, sal e mar:
O próprio Universo está morrendo.
Há tanto sal e tanto mar.
O próprio sol já usa óculos
e passa protetor solar.