À NOITE
Eu vi a noite, em trevas, percorrer
O infinito insondável e esquisito
E palpitei, oprimido, num estertor aflito,
Como se fosse, de súbito, morrer.
Entrevi, embaçado, sem brilho nem vida,
O céu escondido na bruma pesada e fria
E senti a alma, na higidez da agonia,
Cair em abismos, inerte e perdida.
Senti a mágoa, fugidia do espaço,
Tomar-me no vácuo de sua imensidade
E, triste, a vertigem da grande saudade
Apertar-me o peito num gelado abraço.
Nas trevas da noite, quedei-me absorto
No mudo silêncio de minha amargura
E só consegui vislumbrar desventura
No mundo distante, silencioso e morto.