À NOITE

Eu vi a noite, em trevas, percorrer

O infinito insondável e esquisito

E palpitei, oprimido, num estertor aflito,

Como se fosse, de súbito, morrer.

Entrevi, embaçado, sem brilho nem vida,

O céu escondido na bruma pesada e fria

E senti a alma, na higidez da agonia,

Cair em abismos, inerte e perdida.

Senti a mágoa, fugidia do espaço,

Tomar-me no vácuo de sua imensidade

E, triste, a vertigem da grande saudade

Apertar-me o peito num gelado abraço.

Nas trevas da noite, quedei-me absorto

No mudo silêncio de minha amargura

E só consegui vislumbrar desventura

No mundo distante, silencioso e morto.

mreno
Enviado por mreno em 20/03/2005
Código do texto: T7177