Sem abrigo... Peregrina!

Nem sei para que a este mundo vim.

Dizem que se pede para vir á terra

Que se escolhem os pais que teremos

E os irmãos e amigos também

Agora se isso é verdade não sei

Mas se eu pedi para vir e ser assim,

Passar pelo que estou a passar,

Vou-vos dizer, que escolha a minha

Decerto eu estaria era doidinha…

Aqui, em baixo nesta terra redonda,

Sou sem abrigo desde pequenininha…

Se tive pais, não sem quem foram,

Pois sou filha de tudo que foi perdido…

Aos que já perguntei e poderiam saber,

Dizem que eu não existo e não há parentes

E muito menos sabem o local onde nasci

Perguntam-me o nome e rapidamente digo:

- Sou a Maria. Maria? E o sobrenome?

Respondo “sou Maria do Mundo”

Entreolham-se e a rir soltam a parvoíce final

“Ó Maria do mundo, está tudo perdido

Há muitos anos no sistema, e se és do mundo,

Deixa-te continuar a ser, pois ninguém te vai valer”.

Cabisbaixa e revoltada, saio daquele lugar circense,

Pois mais me parece um circo com gente,

Do que um lugar publico de informação…

O final da tarde está a acabar, a noite está a chegar

E eu vaguearei pelas ruas da cidade a temer,

Que alguém ou algo de ruim me possa acontecer…

Queria tanto ter um lugar só para mim,

Quentinho, com uma sopinha e pão

Um cobertor e um velho e usado colchão

Oh se era bom, caramba seria um festim…

Não sei que mal fiz eu a Deus se é que fiz.

Não sei se eu pedi para vir a este mundo,

Mas se o fiz, mereço esmurrar o nariz.

Da próxima vez irei ter mais atenção

Aos pedidos que faço a Deus que bendigo

Pois não pretendo ser infinito Sem abrigo!

Vou deixar-me de lamentos e queixumes,

Vou procurar um quente e escuro lugar

Para meu corpo descansar e a mente limpar.

Amanhã será um novo dia, irei de novo lutar

A esperança e a coragem serão minha companhia,

O amor, a alegria, a oração e a fé o meu alimento,

A Luz que vem de Deus será a minha lamparina

Para os caminhos que eu tiver de aqui trilhar,

De dia serei Sem abrigo á noite serei peregrina

Levando conforto e amor a quem deles precisar,

Talvez, talvez eu assim minha vida consiga encontrar…

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 31/01/2021
Código do texto: T7173265
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