Corpo

Que faço aqui, que sou eu?

Apenas vejo um corpo que sou

Olho-me e não vejo o meu Eu

Vejo um vazio que me abalou

Olho aquele corpo vazio

Se corpo lhe posso chamar

parece-me um manequim frio

De montra me faz lembrar

Boneco de gesso pintado

De cor de pele esbranquiçado

Oco, vazio sem sentido e mente

Não é nada, muito menos gente

Como gente eu poderia ser,

Lembrei-me mesmo agorinha

Que algo me quebrou o viver

fizeram da minha vida um nadinha

levaram-me a alegria e a beleza

beleza exterior e a interior

pisaram-me a minha fé e a pureza

arrancaram-me do coração o amor

Deu-me a vida tantas ilusões,

deu-me também sarna para coçar

das alegrias, amizades e paixões

transformou-as a todas num vazar

vazou de mim todo o meu ser

preenchido com tanto enlevo e amor

o que levou uma eternidade a preencher

levou ela agora segundos a decompor

Agora sei o que tenho a fazer

apanhar os estilhaços do meu corpo

ganhar fé e amor próprio e acolher

tudo o que lhe era puro e bom

recriar-me, renovar-me e não temer

quem venha e me queira abater,

pois agora não sou só Ser, sou Eu

e quem comigo injustiças praticar

eu não me irei deles compadecer...

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 31/01/2021
Reeditado em 31/01/2021
Código do texto: T7173134
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