Corpo
Que faço aqui, que sou eu?
Apenas vejo um corpo que sou
Olho-me e não vejo o meu Eu
Vejo um vazio que me abalou
Olho aquele corpo vazio
Se corpo lhe posso chamar
parece-me um manequim frio
De montra me faz lembrar
Boneco de gesso pintado
De cor de pele esbranquiçado
Oco, vazio sem sentido e mente
Não é nada, muito menos gente
Como gente eu poderia ser,
Lembrei-me mesmo agorinha
Que algo me quebrou o viver
fizeram da minha vida um nadinha
levaram-me a alegria e a beleza
beleza exterior e a interior
pisaram-me a minha fé e a pureza
arrancaram-me do coração o amor
Deu-me a vida tantas ilusões,
deu-me também sarna para coçar
das alegrias, amizades e paixões
transformou-as a todas num vazar
vazou de mim todo o meu ser
preenchido com tanto enlevo e amor
o que levou uma eternidade a preencher
levou ela agora segundos a decompor
Agora sei o que tenho a fazer
apanhar os estilhaços do meu corpo
ganhar fé e amor próprio e acolher
tudo o que lhe era puro e bom
recriar-me, renovar-me e não temer
quem venha e me queira abater,
pois agora não sou só Ser, sou Eu
e quem comigo injustiças praticar
eu não me irei deles compadecer...