memória que lambe a vida

solo

erva

a boca

o seio

o leite

a doçura dos

desentendidos,

a beleza oculta

o traço que é traço

meus olhos a calar o

tempo, a dor de quem dorme

a cesta de flores

seu vestido de flores

a alumiar o horizonte,

esse vagar sem nome

que me diz o que já fui

nada, não o nada, mas nada

mesmo a fazer margem nessa

goles golpeiam as pedras

a água engolfada na fala

teus lindos abraços tão

bravamente vividos, que

lindo eram tuas mãos

a me falar das esquinas

teus pés que fincava no mundo

as delicias de tua dúvida

ah, mar de todos, bravio

me dizendo o que as palavras

mal soletram, não sou eu

que digo, mas a memória

que lambe a vida

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 31/01/2021
Reeditado em 31/01/2021
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