Folha
Sou uma folha castanha, presa por um fio
num ramo da árvore que me viu nascer
Se o vento que nos agita em força crescer,
com certeza, eu frágil sentirei um arrepio,
pois sei que é chegada a hora do rodopio.
Andarei, rodopiando, rodopiando sem fim,
serei vista a dançar pelos montes e jardins,
passarei pontes, estradas e chegarei ruim,
cansada da intempérie e dos dias ruins,
e sempre receosa de como irei aterrar,
pois não queria nada numa valeta acabar,
navegando nas suas águas sujas e frias,
acabando por alguém vir a transportar
um bicharoco qualquer ou um caracol
dando-lhe uma boleia pra não se afogar,
sacrificando-me a ir em direção ao mar
e sobre sua água tão salgada morrer
ou ser apanhada por um anzol!
retrocedi na memória e senti saudades
da brisa dos dias, da aragem da noite fria,
do raiozinho de sol que ás vezes me aquecia,
do nevoeiro que dos bicharocos me encobria
e pensei para mim que se conseguisse salvação,
nunca mais me lamentaria das dificuldades
e emoções que me viessem a incomodar,
durante a duração das quatro estações!