Folha

Sou uma folha castanha, presa por um fio

num ramo da árvore que me viu nascer

Se o vento que nos agita em força crescer,

com certeza, eu frágil sentirei um arrepio,

pois sei que é chegada a hora do rodopio.

Andarei, rodopiando, rodopiando sem fim,

serei vista a dançar pelos montes e jardins,

passarei pontes, estradas e chegarei ruim,

cansada da intempérie e dos dias ruins,

e sempre receosa de como irei aterrar,

pois não queria nada numa valeta acabar,

navegando nas suas águas sujas e frias,

acabando por alguém vir a transportar

um bicharoco qualquer ou um caracol

dando-lhe uma boleia pra não se afogar,

sacrificando-me a ir em direção ao mar

e sobre sua água tão salgada morrer

ou ser apanhada por um anzol!

retrocedi na memória e senti saudades

da brisa dos dias, da aragem da noite fria,

do raiozinho de sol que ás vezes me aquecia,

do nevoeiro que dos bicharocos me encobria

e pensei para mim que se conseguisse salvação,

nunca mais me lamentaria das dificuldades

e emoções que me viessem a incomodar,

durante a duração das quatro estações!

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 30/01/2021
Código do texto: T7172524
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.