Alma felina!
Eckhart: "Deus está mais perto
de mim do que eu de mim mesmo".
Não se arrenega o desbravante
Mistério que mistura alma e dor.
Dor desalmada! franqueada
Ao pasmo febril consentir,
Ao mentir sorrisos adornantes.
Oh, dorida alma flamante.
Amante que flerta o destino,
Desatino de dor que jugula,
De alma lasciva e tacanha.
Façanha de consternação
Por amar indolente demiurgo
enjaulado, feralizado!
A poesia abrolha com sentimento,
O despertar-se vem com emoção.
Possessão iluminada em puro sentir.
Aliança cognitiva do poeta e o tudo.
Interação dinâmica do veraz pensar.
Sentida consciência assaz iluminada.
Abre a janela ao cego devir,
E olha pra dentro, apercebe vasto
Universo, maior que o fora.
Presente atemporal, vates!
Dentro e fora integrados,
Sujeito e objeto, amesmados.
Permitido pensar por nova perspectiva,
Fruto do influir e do se saber influido.
Transe ontológico: se sentir formatando.
Senda direta para o fora da caverna,
Onde a verdade última, frúida, habita.
Senda direta para o dentro do Ser.
Da ousia do Ser, para essência absoluta,
Estados plenos, infinito informe.
Iluminação, satori, manto inconsútil.
O poeta não narra o passado nem
prospecta ou descreve o futuro.
Pariu a poesia, mas não é a poesia.
O tempo verbal é - intemporal - no agora.
Só se livra do poema, quando o diferencia.
O poeta tem a poesia, o poesia não o tem.
Fecha a porta da esteta reflexão,
Coração fraternal que tudo anima,
Dor em alma felina, assim termina.
A poesia está tão dentro do tudo;
Tal quanto EU, fora em mim mesmo!