O Poeta do Absurdo
Sua musa é inalcançável neste seu tempo de ocaso
De vida, mas, ainda assim, sua loucura se renova,
E sonha que a tem, não como musa do seu Parnaso,
Mas como a linda bacante da sua alcova...
E o seu sonhar com ela é viciado zelo,
Pois é hora em que, vestida de desejo, ela vem vê-lo.
Sua ilusão o amarra à musa em insano laço
E louco, insistente, nos poemas sempre a põe,
Toda sua, embora em tempo escasso,
Na alcova dos versos que compõe.
Sonha!... Mas o coração dela sempre parece
Miragem do deserto que o amanhece.
E, então, na noturna praia do coração,
É o fantasma da sua ilusão que passeia,
Herdeira deste sonho vão,
Pois se olha e só vê inútil grão de areia,
Fascinado pela visão da longínqua estrela,
Mas tão loucamente ansiando por tê-la!...
Santiago Cabral
Cantinho das Letras
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