PÁGINA 18
a letra imperfeita
deixada de qualquer maneira
no rodapé da pagina dezoito daquele livro
ainda guardava em si a verdade da mensagem fresca
viçosa, depois de tantos anos pelo que vejo na palidez da tinta
no final da linha uma mera sombra no ponto exato onde um A sucumbiu.
a linha inclinada
quase que se misturava com os tipos impressos do livro
um curioso aclive que parecia fazer alegoria ao fato das emoções entrarem em ebulição
mas confesso que não me lembro de ter me emocionado tanto naqueles dias em que eu apenas lia
pelo simples fato de ter amanhecido certo dia falando o idioma cazaque e entendendo apenas alemão
tampouco lia português, apenas juntava as letras na esperança de que uma mensagem cifrada me surgisse indicando uma passagem secreta.
maiúsculas ignoradas
espaçamento ilusório e pontuação fictícia transformaram a escrita em cordão
duas pontas tão próximas que continham tanto entre si que um reles ponto final teria poder de nó
enrolei o cordão na minha língua como cabelo na comida e desde então convivo com o cordão me entrelaçando os dentes
e hj quando vi outra vez o que você tão depressa escreveu subitamente meus dentes se libertaram e minha língua deixou o cazaque
no meu despertar apenas uma palavra brilhava em neon e em pbom português: esquecimento.