POETA METIDO A BESTA
Sou poeta metido a besta
meio descabelado, de alma franzina,
mas bonito mesmo assim.
Sou poeta encardido,
meio quebrado, de olhar esquisito,
mas bonito mesmo assim.
Sou poeta foragido,
meio esgarçado, de caminhar seco,
mas bonito mesmo assim.
Sou poeta falido,
meio desengonçado, de voz seca,
mas bonito mesmo assim.
Sou poeta endiabrado,
meio desafinado, de cais destruído,
mas bonito mesmo assim.
Sou poeta estilhaçado,
meio desgraçado, de cheiro aflito,
mas bonito mesmo assim.
Sou poeta agigantado,
de coração colorido, de passo certeiro,
mas bonito nem sempre assim.
Sou poeta afiado,
de sonho atracado, de sangue libertado,
mas bonito nem sempre assim.
Sou poeta alforriado, de tempo ungido,
mas bonito sempre assim.