Lapso

O que tenho feito

O que tenho feito de mim

Além da pena que sinto

De ser o que sou

De pouco ter esperado

E não ter brilhado

Além de murmúrios

E noites de insônia

Além de lamentos silenciosos

Além de se sujeitar

A cada dia o cotidiano

Ah o cotidiano matando lentamente

Apenas mais um homem

Acoplado a um grande sistema

Vivendo cotidianamente

Esperando na janela sei lá o quê

Sonhando é sonhado

Pois tudo que há pra fazer

É sonhar!

Debochando de toda humanidade

E rindo dos deuses

Contando apenas com a sorte

De todo acaso cósmico

Bêbado, sóbrio, sórdido

Sentado sobre a cabeça

Vendo o tempo passar