LONGEVIDADE

Longos são os dias de escravidão e fogo
guardados na minha memória
porque ainda sou menina , bordando crivos
na pele áspera do TEMPO.
As minhas mãos resguardam a pedra de fogo
- coração da natureza - e os meus lábios
beijam os pergaminhos na iminência do verbo.
Danço com as feiticeiras, as sacerdotisas e as deusas
e tudo que profetizam _______ faz vingar as sementes de mandrágora.
Soam trovões em todos os céus e sinos de todas as catedrais todos os rios percorrem as entranhas da Terra e os peixes acordam de sua profundeza abissal.
As marés, as tempestades, os ventos e o olho do furacão.
Os ventos lunares as marés de sizígia
as escamas do dragão brilhando ao sol
quando o dia não se rende à noite enclausurada.
Desarvorado é o coração do homem diante dos dias nublados...
Ouço o silêncio dos poemas
dos poços sem fundo
das raízes
dos liames
dos pássaros sem ninho
dos ossos secos como flautas de vento
dos ouvidos surdos
das bocas enrugadas
dos casulos
das crisálida de seda
e dos olhos que não adormecem...
... não adormecem nunca!
É este frio enovelado em sacrifício
que busca guarida no meu coração.
É este ponteiro que atropela o verso
e incompreendido se põe a correr pelos meus corredores
até o início da minha memória _____ anciã/mulher/menina
e a solidão devastadora do existir.



imagem: Autorretrato
Grafite sobre papel
Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 21/01/2021
Código do texto: T7165400
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