COMO IR MATANDO-SE

vá aprisionando, ano a ano, o menino

sem dó nem piedade, por puro desatino

na jaula segura do vácuo dentro de si

pergunte ao passado: como o prendi?

a chave da porta jogue fora por medo

mil contos de infância, tudo em segredo,

soterre nos escombros os primeiros anos

desenhos primitivos, seus antigos planos:

ser astronauta, ser piloto, ser bombeiro

o mundo que você quis no sonho primeiro

não reconheça nada do que vê...cresça!

espiche-se tanto que ao lembrar esqueça

esteja na barca de um adeus que não queria

marítima escura aventura sua vida sem via

um dia o prisioneiro reclama! revolta, motim!

zorra de coisas queimadas, inferno, festim!

te ameaça todo dia, ele agora é seu algoz,

tortura-o impiedosamente, carrasco feroz,

toma o poder no cárcere com grande revolta

pelo túnel em seu peito ele inteiro se solta

você desnorteado vai procurar o seu menino

acha um velho deitado, seu funeral e um sino...

betina moraes
Enviado por betina moraes em 30/10/2007
Código do texto: T716519
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