Flores e Espinhos
O que sabes de minhas dores?
Possivelmente, o que veio à tona
Mas... o que está por debaixo da lona
Tem camadas de todas as cores
Dentro de mim, há tantas flores
E bem sabes, conheceste meu jardim
Te embriagaste com o perfume
Colheste a flor que estava no cume
E o melhor daquilo que há em mim
Andaste descalço pelos caminhos
Escalaste as montanhas mais altas
Sem te importares com as luzes da ribalta
Querias apenas a rosa mais rara
Mas, errei e escondi os espinhos
Te encantei com o canto dos passarinhos
E vivemos como se só houvesse flores
Agora, deparamo-nos com os espinhos
Eles furam, perfuram, sangram os amores
E mancham de tristeza todas as flores
O encanto acabou por virar desencanto
Tudo que quero neste momento
É banhar as flores com meu pranto
E torná-las virgens e intocáveis
O meu jardim está ainda cá dentro
Mas, agora, a portas fechadas
Trancafiadas, impenetráveis
Ninguém mais vai se furar nem sangrar
Ninguém mais vai chorar nem sofrer
Não haverá espinho, tampouco flor
Só eu poderei entrar e contemplar
Quem sabe me furar e sangrar até morrer
E sepultar juntos o Amor e a Dor!