Poema interiorano
chove como sempre escreveram
nos livros e canções amigas
distantes estamos contando
os casos enquanto calangos
correm na aridez do concreto
fico sentado, vejo o verde
aos borbotões entre a folhagem
verde suculento que enverga
uma saudação japonesa
apanhando da gota estúpida
ouvi melhor o meu quintal
o mato tomando terreno
roça a gotícula infinita
restante que desce da telha
cerâmica Vila Martins
ligo as telas tão antenadas
e transmitem a morte longa
percebo o quintal e sorrio
o sorriso do filho, canta
o galo morador ilustre
do bairro, a dona mora ali
a tarde anila a calcedônia
pelos ares duros do adeus
levanto, saúdo o passeio
pela casa trancada em ponto
sem final que desce da telha
cerâmica Vila Martins
chove como sempre escreveram
o pingo bate, fere a folha
que recurvada reza e vela
vidas lembradas sobre a tarde
uma gota insiste na telha
cerâmica Vila Martins