Vem
Noite silenciosa, convite para um sono.
Os pincéis da imaginação querem descansar
a vida real é adulta.
Sobre a mesa um vaso transparente,
deixando envergonhado o caule do girassol
deslocado... Ali não é o seu lugar.
Queria juntar-se aos outros lá fora.
A vida não quer enfeite, avança,
desmotivando as fantasias, insisto em discordar.
Feito a folha que não larga do galho, não pensa
nem quer o outono...
Folha de inverno, resiste aos ventos.
Também os dedos resistem aos pensamentos,
não deixam as letras escapar.
Como descrever, quando a alma não quer falar.
Banhados pela brisa da noite, exalando seu cheiro;
Os bugaris embaixo do velho coqueiro
envergando, sobe e desce,
acostumado com as tempestades,
vai se embalando no arranhar das palhas secas
num movimento preguiçoso, contínuo à janela.
Não tira o sono de quem vai se entregar.
Um pouco mais...
Lança um olhar penoso direto ao girassol,
sobre a toalha branca, pobrezinho, desolado,
queria sol do amanhã, lhe foi negado.
Enquanto o tempo
brinca com a alma que em silêncio
desenha dentro de si, o jeito amoroso, desejando
para com alguém sonhar, ao contrário
daquele triste girassol, o seu pedido não será
negado. Ele sempre vem, no sonho, na realidade
também.
Liduina do Nascimento