o céu não tem um fim
tudo tem fim, menos o céu
eu quero achar o fim das coisas
do que não tem e do que sim
eu quero o fim até pra mim
às vezes sim, às vezes não
às vezes choro em negação
querendo viver, com medo de tudo
querendo não ter para me encontrar
então, quem sou? pergunto mil vezes
dou milhões de respostas para acertar
nunca encontrei a que me completasse
não encontrei a que última será
se um dia encontrar, o que acontece
será o fim do céu, será o fim de mim
será o fim das coisas que nunca têm fim
ou só das perguntas que me perseguem
é tão importante, seria assim mesmo
só uma pergunta e todo o desespero
entre todas as outras que têm suas respostas
são essas as questões que menos importam
viajo e penso, estou sempre no céu
pisando no chão, minha mente ao léu
pensando muito, pouco faz sentido
o cérebro confuso é o único amigo
penso que existe alguma sensatez
nas ideias desconectadas que transbordam
porque às vezes elas são tudo que eu preciso
eu não escolho, elas existem, elas jorram
eu gosto delas, ninguém vai gostar por mim
eu preciso delas para encontrar o caminho
nem que seja para marcar por onde andei na estrada
nem que seja para alimentar os passarinhos
eu sou um passarinho, eu ando e me vejo por trás
eu misturo as versões da mesma história
como os doces, fujo, volto e reescrevo
dou voltas e mudo minhas próprias memórias
perco o ar sem abrir a boca e sem sair do lugar
só Deus sabe tudo o que se passa na minha mente
nem eu sei tudo que essa pessoa sente
essa pessoa que eu sou sem poder optar
não que eu não goste dela, andamos sempre juntos
até temos bons momentos para lembrar
ela tem muito que eu prezo e até invejo
eu tenho muito que ela quer roubar
seguimos juntas, no grito da alma
respiramos juntas todo o ar do mundo
vagamos juntas, rumo a todos os passos
ela abre as portas e eu inundo
o céu não tem fim, como não tem a confusão
de adentrar a própria mente, tentando desvendar
o sentido das ideias, sensatez da ilusão
toda a ânsia de sair com o desejo de ficar
não faz sentido, eu sei, mas é isso que eu amo
se tirasse isso de mim, a torre desmoronaria
mas o céu não tem fim e tampouco eu tenho
como não precisa ter fim o paradoxo da minha vida
nunca roube isso de mim, se eu puder pedir só uma coisa
talvez as perguntas nunca encontrem seus finais
talvez eu nunca ache as respostas que eu preciso
e talvez a minha vida deva ser exatamente isso
vou ser confusa, irrelevante, sem sentido, o que for
vejo motivos em todo lado, entre o que eu fui e quem eu sou
depois do desabafo e da ferocidade entre a dança dos dedos
e o próprio vômito de palavras, ideias, divagações e medos
existe alguém que, no mínimo, é e faz todos os dias
nada que é pouca coisa, nada que é um fingimento
tudo que é a própria verdade, para todos os efeitos,
de que o céu não tem um fim, e eu muito menos.