LUCIDEZ

A lucidez é um fantasma

insolente quando ataca

num só raio — e me desloca

deste ocaso à aurora.

Remove o preto das capas:

do Mephisto, a maquiagem,

e do verso a existência

do poeta e do poema.

A lucidez não é vantagem;

é volátil, desvantajosa...

Sua mó tritura as máscaras,

mas também sem dó o isola

no adro negro da razão,

onde toda a emoção

agora é água passada

sob esta passagem do nada.

A lucidez é um fantasma.