Minha cara

Nem face

Nem fácil

Não faço

Nem ouço

Não falso

Sou surdo

Não me dou a seguir absurdos

Não entrrego

Nem carrego

Grãos ou pingos d'água

Semente ou caroço

Minha cara me é muito cara

Estimo minha matéria

Não há preço que pague

Tenho apreço por mim

Pois sou dádiva

Caminho o meu caminho

Caminho

Ora corro

Enquanto me derreto, escorro

lastimo

Quase morro

Por dentro eu sinto a voz

Que pede socorro

Voz da Pólis

Que se dá

Entrega o seu ouro

Suas pérolas preciosas

Ao urubu, ao chacal e ao porco

Clamando por justiça

Cavando o próprio poço

Fundo poço

Aberto no meio do mundo

Onde tudo é seu

Até a água a água que lhe enche a boca

Transborda no poço

Insensatez

Que lhe transforma

Num pobre perambulante defunto