Cordão Umbilical
Tenho meu próprio mundo
Por isso, às vezes, me confundo
Comigo mesma me fundo
Mas não me torno apenas uma
Continuo sendo várias
Reais e imaginárias
E, muitas vezes, nenhuma
Sou espécie de caleidoscópio
Espécime que pode ser vista
Por um tipo de microscópio
Mas só vê quem se arrisca
Parte de mim é rio
Outra parte é mar bravio
Parte é terra seca que não brota
Outra parte é terreno alagadiço
Uma parte é fratura exposta
Outra é cicatriz quase invisível
No espelho, ainda vejo o viço
Dos dias verdes do passado
Mas o tempo é invencível
E, ao mesmo tempo, cruel aliado
Deixa suas profundas marcas
No corpo e na alma
Olho para trás e vejo a estrada
As flores tinham espinhos
Mas, não desisti no caminho
E o cheiro das flores prevaleceu
Em quase todos os meus eus
O passado está cada vez mais distante
Mas me prende com um fino cordão umbilical
Me encolho em posição fetal
E, muitas vezes, por instantes,
Cubro- me com o manto da inocência
E consigo ser apenas minha essência
Aquela que não tinha sido apedrejada
Pelas pedras pontiagudas da maldade
Que construíram minha realidade
Foram elas que me fizeram ser muitas
Por isso, hoje sou múltiplas
Minhas partes foram separadas
E meus fragmentos partes inteiras
Por isso, a mim estou sempre presa
Numa mistura de tudo e nada...