cuspe
um poeta amarelo
escorado no ponto de ônibus
mastiga a palavra ardida de estrela
cospe um verso
e o asfalto árido cristaliza num poema rançoso
-tempos difíceis
afirma para si mesmo
desdenhando da vida ferina:
-já levou minha graça
meu silêncio
e agora minha poesia
esta de chorume noturno
asco na boca perolada das musas
no bucho do nada
eu poeta
abandono e manhã
cuspirei orvalho na cara do dia
pois teimo
e teimo
abro o peito
para escorrer
livre
uma última poesia
*Poema publicado na revista Ruído Manifesto.
dezembro/2020