Eu que...
Eu que...
Alimentava uma culpa por não tomar parte
Inteiramente
Do que pra mim não se revelava
Como íntegro e sincero.
Me sentia um nada
Por não conseguir tomar parte
Do que não queria fazer parte.
Levava a sério a seriedade,
Mas ela escondia contradições
E um sem número hipocrisias.
Me encantava com as belezas.
Não serviam para outra coisa:
Ocultar o que há de feio
Na ambição e nos feitos humanos
Perdi meu tempo com vinganças ideológicas
Até perceber que denunciam aquilo desejavam.
Que não era repulsa, era ambição e inveja.
Não se chega ao céu parindo o inferno.
Alimento desejos de feitorias, artes e ofícios.
Destes que nos levam a encontrar
O que sempre esteve conosco
Em cada um durante tantos séculos.
Quero de novo arriscar com o que vale a pena.
Recusar as mortalhas dos sonhos alheios,
O que não se revela sem primeiro apodrecer.
Que foge do Sol e evita a generosidade.
Não sabia mais com quem dizer.
Achava que nada mais poderia falar.
Mas o meu "eu" só é enquanto diz
Hoje falo impunemente como eu mesmo.
Matei tudo que o não tinha vida,
Perdoei as assombrações,
Me aliei a antigos fantasmas e persigo
Tudo que é incapaz de renascer de si mesmo.
https://www.recantodasletras.com.br/poesias/7152607