Eu que...

Eu que...

Alimentava uma culpa por não tomar parte

Inteiramente

Do que pra mim não se revelava

Como íntegro e sincero.

Me sentia um nada

Por não conseguir tomar parte

Do que não queria fazer parte.

Levava a sério a seriedade,

Mas ela escondia contradições

E um sem número hipocrisias.

Me encantava com as belezas.

Não serviam para outra coisa:

Ocultar o que há de feio

Na ambição e nos feitos humanos

Perdi meu tempo com vinganças ideológicas

Até perceber que denunciam aquilo desejavam.

Que não era repulsa, era ambição e inveja.

Não se chega ao céu parindo o inferno.

Alimento desejos de feitorias, artes e ofícios.

Destes que nos levam a encontrar

O que sempre esteve conosco

Em cada um durante tantos séculos.

Quero de novo arriscar com o que vale a pena.

Recusar as mortalhas dos sonhos alheios,

O que não se revela sem primeiro apodrecer.

Que foge do Sol e evita a generosidade.

Não sabia mais com quem dizer.

Achava que nada mais poderia falar.

Mas o meu "eu" só é enquanto diz

Hoje falo impunemente como eu mesmo.

Matei tudo que o não tinha vida,

Perdoei as assombrações,

Me aliei a antigos fantasmas e persigo

Tudo que é incapaz de renascer de si mesmo.

https://www.recantodasletras.com.br/poesias/7152607

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 05/01/2021
Reeditado em 05/01/2021
Código do texto: T7152607
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