Leme
Leme
Sou aquilo que ninguém quer ser
ou tudo que você poderia ser
a nata que azeda as eras
o beijo encontrado na lama
os acordes adormecidos
O leme da sina sem rumo
as cores das ruínas vividas
o instante que cai do silêncio
sou o andar que fere a dança
e inebria o passado
Sou o risco do futuro
a reta do perigo
o abraço no choro do perdão
a carne amarga da doçura
sou erva que alivia o presente
Sou a força do medo na coragem
o ritmo descompassado
a cara estampada sem teatro
a casca da ferida que não sara
a morte que sorri sem lado
Sou a dor do adeus
talvez o DEUS que salva
a mente ciníca e seca
a matéria em decomposição
as curvas oprimidas da cegueira
Sou saudade que deixa
o amor que não existe
a faca que afia o infinito
o desejo que afina o gozo
sou alma perdida
Sou música que acende o verbo
o tombo do recomeço
a bebida e a loucura
a prece na luz da gratidão
o nada onde tudo acontece
Sou o ombro que precisa
a boca que morde e protege
o odor de suas entranhas
o calço do passo que eleva e move
sou vida que não morre...