Caber, Dói

Doeu ter que abandonar meu cobertorzinho que me protegia dos monstros (irreais?).

E aquela minha mamadeira quentinha, que aquecia o meu corpo, e à minha alma, aonde foi parar?

Recostada sobre montes de lixos a se deteriorar...

Os topos das árvores já não me parecem gigantes, tão pouco me chamam à atenção.

Minhas aventuras não passam mais de um filme num domingo à tarde.

Tristes tardes...

Só queria poder me deitar sobre à terra molhada pelo orvalho das manhãs, despreocupada, descomplicada.

À terra ainda é a mesma, eu não.

Milhões de pensamentos me atormentam, me amedrontam.

Me sinto sozinha em meio há multidões.

Me sinto, e estou.

Encolhendo...

Sinto que ao crescer, diminuo.

Crescer, é encolher.

Me diminuo para caber no mundo dos outros, no mundo, nos outros.

Me encolho, e caibo.

Nos encolher, dói.

Doeu não caber mais na minha camisetinha jeans com florzinhas que fazia eu me sentir a mais bela flor.

E aquela sainha de pregas azul que me proporcionava os mais belos e saltitantes shows no quintal da minha casa?

Virou retalho, se desfez.

Me desfiz para caber, me encolhi.

Não quero mais crescer, não quero mais caber.

Mas me encolho, me desfaço e caibo.

Caber, dói.

Jéssica Batista
Enviado por Jéssica Batista em 04/01/2021
Reeditado em 19/01/2021
Código do texto: T7152050
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