Caber, Dói
Doeu ter que abandonar meu cobertorzinho que me protegia dos monstros (irreais?).
E aquela minha mamadeira quentinha, que aquecia o meu corpo, e à minha alma, aonde foi parar?
Recostada sobre montes de lixos a se deteriorar...
Os topos das árvores já não me parecem gigantes, tão pouco me chamam à atenção.
Minhas aventuras não passam mais de um filme num domingo à tarde.
Tristes tardes...
Só queria poder me deitar sobre à terra molhada pelo orvalho das manhãs, despreocupada, descomplicada.
À terra ainda é a mesma, eu não.
Milhões de pensamentos me atormentam, me amedrontam.
Me sinto sozinha em meio há multidões.
Me sinto, e estou.
Encolhendo...
Sinto que ao crescer, diminuo.
Crescer, é encolher.
Me diminuo para caber no mundo dos outros, no mundo, nos outros.
Me encolho, e caibo.
Nos encolher, dói.
Doeu não caber mais na minha camisetinha jeans com florzinhas que fazia eu me sentir a mais bela flor.
E aquela sainha de pregas azul que me proporcionava os mais belos e saltitantes shows no quintal da minha casa?
Virou retalho, se desfez.
Me desfiz para caber, me encolhi.
Não quero mais crescer, não quero mais caber.
Mas me encolho, me desfaço e caibo.
Caber, dói.