EU SINTO QUE AINDA NÃO ESTOU A DESCER
Eu queria tanto
que a estrada não acabasse.
Quando espraio a vista estrada fora,
não consigo ver o fim,
não sei se está perto ou longe,
mas sei
que para mim e para todos,
um dia terá fim.
Estendo as mãos na minha frente
e com um misto de ansiedade e frieza,
alegria e tristeza,
vejo-as cheias de nada
e vazias de tudo.
Contudo,
a minha mente e o meu coração
estão cheios de planos e projetos.
Assisti com aflição a ações tresloucadas
e planos fracassados.
Há um ficheiro no meu cérebro
Que teima em lembrar-me.
Eu também tenho desaires,
ainda não me recompus do mais recente.
Das mais remotas atrocidades
ganhei coragem e determinação
para não desistir da vida.
Aprendi a ver a vida
como um bem maior,
uma benção,
apesar das muitas dificuldades.
É certo que algumas vezes vacilei e tremi,
caí num buraco negro e fundo.
Não deixei que o medo
me embotasse o discernimento.
Alguém me lançou pazadas de terra
que em vez de me afundarem
me elevaram até á superficie.
Lágrimas de alívio, esperança e alegria
lavaram-me a alma e o coração
fiquei rejuvenescida.
Por dentro vesti-me de azul,
estrelas e lua cheia.
Por fora adornei o corpo
com os mesmos enfeites.
Raios de luz apontaram-me o caminho.
Olho os projectos em curso com convicção.
Não sei se já atingi o meu ponto alto,
por isso não sei
se ainda estou a subir
ou se já estou a descer.
Eu sinto que ainda não estou a descer.
Coloco-me na roda do oleiro
e permito-me que a obra aconteça.
Para lá do que a minha vista alcança,
há ainda um mundo para fazer acontecer!
©Maria Dulce Leitão Reis
Copyright 15/12/2020