Humilhante súplica à felicidade

Queria tê-la em mim

Mas o querer não é bastante

É negado, distante

Que sejas minha e eu tua

As cenas que imagino-nos

Me encarecem o existir

Me despertam alamedas

Por labaredas do sentir

Os instantes que separam-nos

Matam-me aos poucos

Segregam-me felicidades

Exasperam saudades

E se pensas que me escondo

Ao fundo não conheço

Os traços torpes das sensações

De tuas mãos às minhas

Que se vêem frente

Às fontes tortas das paisagens

É o sofrer

Típico de minha própria sabotagem?

As pérolas ao chão

As flores nos livros

Os dentes de leão

Que voam sob teus olhos

Os sorrisos meus

Sem graça todos

A presença que lhe falta

O amor que não te abraça

As estações veronis

De tardes lindas e solitárias

Ensinam-me poemas

Que necessito viver na prática

O que é amor?

É sacrificar

Calar, alucinar

É enterro nos dons do desespero

Que é saudade

De algo que nunca se teve

Perto da esperança

De que vida pode esperar?

E meus sentidos encaminhados

Eles andam abnegados

A ti desnorteados

Em amargo dançar

Então alço voo em asas de corvo

Lá de cima a vejo

Quisera atenção chamar

Digo: ei, posso voar!

Como estrelas da alvorada

Filhas de luz, figos ao sol

Comê-los todos debaixo da árvore

Que é santuário

De passaros meus que querem os teus esposar.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 29/12/2020
Reeditado em 06/05/2021
Código do texto: T7147292
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