Humilhante súplica à felicidade
Queria tê-la em mim
Mas o querer não é bastante
É negado, distante
Que sejas minha e eu tua
As cenas que imagino-nos
Me encarecem o existir
Me despertam alamedas
Por labaredas do sentir
Os instantes que separam-nos
Matam-me aos poucos
Segregam-me felicidades
Exasperam saudades
E se pensas que me escondo
Ao fundo não conheço
Os traços torpes das sensações
De tuas mãos às minhas
Que se vêem frente
Às fontes tortas das paisagens
É o sofrer
Típico de minha própria sabotagem?
As pérolas ao chão
As flores nos livros
Os dentes de leão
Que voam sob teus olhos
Os sorrisos meus
Sem graça todos
A presença que lhe falta
O amor que não te abraça
As estações veronis
De tardes lindas e solitárias
Ensinam-me poemas
Que necessito viver na prática
O que é amor?
É sacrificar
Calar, alucinar
É enterro nos dons do desespero
Que é saudade
De algo que nunca se teve
Perto da esperança
De que vida pode esperar?
E meus sentidos encaminhados
Eles andam abnegados
A ti desnorteados
Em amargo dançar
Então alço voo em asas de corvo
Lá de cima a vejo
Quisera atenção chamar
Digo: ei, posso voar!
Como estrelas da alvorada
Filhas de luz, figos ao sol
Comê-los todos debaixo da árvore
Que é santuário
De passaros meus que querem os teus esposar.