É SEMPRE TEMPO PARA AMAR

Pelo caminho íngreme

E esgalhado da solidão

Vou tecendo filigranas e casulos de seda

Suavizando a derrocada e a escuridão

Já não há artífices nem lagartas

Atravesso os ribeiros, os açudes e os rios

Com pressa de chegar ao mar

Nos pés cansados, humildes alpergatas

Uma dança irrompe á minha frente

Atónita contemplo o mavioso dançar

Os dançarinos, são anjos de azul

Executando a dança do ventre

Desceram do céu pra nos ensinar a amar

No meio dos anjos, há um ser que se destaca

É o amor que veio d’além mar

Com um recado de Deus Pai Salvador

Não feches o teu coração

Deixa entrar a poalha dourada dos astros

O ouro do sol e o luar de prata

O perfume das flores

O cheiro das forragens cor de verão

E o cheiro da relva cortada

O cheiro da chuva na terra molhada

O paladar maduro e aveludado do vinho velho

E o gosto frutado do bom azeite na tiborna

Na mesa posta no lagar

Deixa entrar o encanto da natureza

Vestida de organza fina

Fecho os olhos, dilato as narinas

Inspiro o mundo adormecido na minha memória

Baloiço, salto á corda, jogo ás pedrinhas

Ás escondidas, á macaca e ao lenço

Exatamente como quando era menina

Pego-me numa acalorada discussão com o tempo

Ele diz que fico linda

Ataviada com laços cor de amora

E eu digo que já passou a minha hora

Digo isso com algum pesar e dissabor

E no calor da altercação

Numa vingança descarada, ridícula e cheia de cor

Abro a porta do coração

E franqueio a entrada ao amor!

©Maria Dulce Leitão Reis

Direitos de Autor 06/11/16

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 28/12/2020
Código do texto: T7146048
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