AOS DEIXADOS PARA TRÁS

Eu saúdo aqueles que foram deixados para trás

Proponho um brinde aos que foram ignorados,

Cujo fim a noite esqueceu de avisar

Eu brindo aos viúvos desconsolados

À noiva abandonada no altar

Aos nômades que fizeram escolhas más

Eu lembro dos jovens que morreram cedo

Choro por aqueles que acordaram sem os seus

Eu cubro o mendigo com frio

Homenageio a solidão que carrega o medo

Suas várias vertentes de adeus

Como quem lança uma carta, em uma garrafa, num rio

Peço piedade à família do rejeitado ébrio

Porquanto todos têm complexos problemas

Alguns, com dores suicidas

Que se valem de remédios e bebidas

- conjuntamente – a um propósito tétrico

Tendente à solução, apenas.

Suplico por perdão a quem não consegue perdoar

A dolorosa mágoa estarrecida

A ferida tão inflamada de que jorra pus

Na qual se pôs a vã anestesia

De, para dentro, soluçar. E, de tanto soluçar,

Nutrir o câncer dessa cruz!...

É preciso lembrar dos que foram deixados para trás.

Eles trazem consigo de muitos a miséria

De quem passou ou ainda não passou pela vida,

Mas cuja sorte não lhe será perene, aliás,

A ambiência terrestre é matéria

Falível, mortífera, fadada à ruína.

Lembre-me-nos dos esquecidos cujo futuro não os quisera.

Foram pedaços de destino, sem ninguém à espera.

Um último brinde aos que tentaram correr afinal,

Embora não puderam sequer caminhar a rumo

De nada! Culparam os espinhos – presumo –,

Mesmo assim deixados, por si ou pelos outros, merecem

[um brinde de Natal.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 20/12/2020
Reeditado em 30/03/2022
Código do texto: T7140014
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