AOS DEIXADOS PARA TRÁS
Eu saúdo aqueles que foram deixados para trás
Proponho um brinde aos que foram ignorados,
Cujo fim a noite esqueceu de avisar
Eu brindo aos viúvos desconsolados
À noiva abandonada no altar
Aos nômades que fizeram escolhas más
Eu lembro dos jovens que morreram cedo
Choro por aqueles que acordaram sem os seus
Eu cubro o mendigo com frio
Homenageio a solidão que carrega o medo
Suas várias vertentes de adeus
Como quem lança uma carta, em uma garrafa, num rio
Peço piedade à família do rejeitado ébrio
Porquanto todos têm complexos problemas
Alguns, com dores suicidas
Que se valem de remédios e bebidas
- conjuntamente – a um propósito tétrico
Tendente à solução, apenas.
Suplico por perdão a quem não consegue perdoar
A dolorosa mágoa estarrecida
A ferida tão inflamada de que jorra pus
Na qual se pôs a vã anestesia
De, para dentro, soluçar. E, de tanto soluçar,
Nutrir o câncer dessa cruz!...
É preciso lembrar dos que foram deixados para trás.
Eles trazem consigo de muitos a miséria
De quem passou ou ainda não passou pela vida,
Mas cuja sorte não lhe será perene, aliás,
A ambiência terrestre é matéria
Falível, mortífera, fadada à ruína.
Lembre-me-nos dos esquecidos cujo futuro não os quisera.
Foram pedaços de destino, sem ninguém à espera.
Um último brinde aos que tentaram correr afinal,
Embora não puderam sequer caminhar a rumo
De nada! Culparam os espinhos – presumo –,
Mesmo assim deixados, por si ou pelos outros, merecem
[um brinde de Natal.